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Tabela de Honorários versus clientes barganhadores, como agir?


A cena é surreal, de um lado o advogado com receio de estipular os honorários que o seu cliente deve pagar pela interposição da demanda ou pelos serviços que irá prestar e do outro, o cliente que de uma hora pra outra se transforma num barganhador nato despejando sobre o profissional todos os problemas financeiros que enfrenta, querendo com isso, diminuir os honorários que irá pagar. Clássico, quem já não passou por isso?

A impressão que se dá quando assistimos esse tipo de cena é que o advogado, na hora de estipular e defender seus honorários está advogando em causa própria, isto é, defendendo sua própria causa, que é o direito de receber condignamente pelo o serviço que irá prestar e o cliente barganhador, a parte contrária que tenta de todas as maneiras reduzir os ganhos do seu patrono com motivos variados.

Neste tipo de "lide administrativa" entre advogado x cliente cabem todos os recursos, cliente procrastinando o resultado final da proposta de honorários lhe imposta pelo advogado e, o advogado por sua vez tentando celebrizar o "feito" (contrato) para que comece logo a prestar seus serviços de forma satisfatória e honesta.

Antes de mais nada, uma coisa que eu aprendi depois de tantos anos lidando e vivenciando esse tipo de embate advogado versus cliente é que, todo processo é importante, não importa o tempo que durar ou o valor da causa e a responsabilidade do profissional também. Sempre é bom lembrar que num eventual deslize do advogado o cliente não quer saber o quanto pagou, apenas que pagou e por isso vem para o profissional igual um trem desgovernado cobrando providências como se tivesse pago todos os honorários do mundo.

Afinal, qual é o limite mínimo de honorários que devem ser cobrados de um cliente? A tabela de honorários fornecida pela Ordem dos Advogados do Brasil é uma importante fonte de consulta nessas horas mesmo todos nós sabendo que cobrar honorários por ela pode ser a morte de um contrato, muitos clientes acham os valores altos demais, não sei se tem razão, trata-se de um serviço especializado e que requer muita responsabilidade e compromisso então tem que ser mesmo bem remunerado.

Entrar nesse jogo de clientes barganhadores na ânsia de fechar um contrato de uma causa pode ser um perigo porque se deixa de fechar um contrato justo para ganhar qualquer coisa e, advogado não é um profissional qualquer para ganhar qualquer coisa. Lembro-me como se fosse hoje, eu debutando ainda em audiências, quando era serventuário da justiça no Poder Judiciário local, uma cena inesquecível e que guardo na memória até hoje. Depois de uma audiências em que as partes resolveram compor, o cliente do advogado da parte promovida, depois que tudo tinha finalizado, se virou pra ele e disse em alto e bom som: Doutor, depois irei ao seu escritório para lhe dar um agrado, ao que o advogado respondeu de logo que ele fosse sim, não para lhe dar um agrado mas sim pagar os honorários pelo serviço prestado e mais, disse fitando-lhe bem nos olhos que advogado não recebe agrado e sim honorários.

Bom que se diga que o advogado que perde um cliente ou uma causa não significa que ele perdeu sua dignidade e lhaneza profissional, a dignidade é um valor inatingível e até os desdobramentos macularem a imagem do advogados teremos que percorrer muita estrada pela frente. Um grande jurista brasileiro dizia que a "A advocacia não é um profissão de covardes", isso talvez explique tudo e mais alguma coisa dependendo de quem interpreta a frase.

Submeter-se a preços e contratos ínfimos é ruim para a imagem do profissional pois uma vez aceitando isso ele própria abre a porta para que no futuro o cliente o desrespeite e menospreze o seu trabalho para outros profissionais. No Brasil existe a cultura de que tudo que é barato não presta, esse mesmo pensamento permeia a mente de muitos clientes, infelizmente.

Não é segredo pra ninguém de que a advocacia requer tempo e dedicação máxima do operador do direito, sem falar nos custos que o mesmo tem ao longo de sua carreira para se manter atualizado mas, não se enganem, quem entra nesse ramo pensando que de logo vai ganhar rios de dinheiro se engana, o tempo de maturação, experiência é de no mínimo dez anos para que o mesmo possa se firmar no mercado e ter a sua cliente formada e fiel.

Honorários baixos + cliente barganhador = frustração com a ação + serviços + "mais ou menos", essa é uma equação de terceiro grau que não fecha nunca. Por mais que se tenha dedicação em patrocinar uma ação cujos honorários recebidos foram pífios a verdade é que poucos "dão o sangue" pela causa correndo-se o risco da demanda demorar mais do que o tempo previso, o trabalho que antes era prazer vira um pesadelo terminando por se prestar mesmo que inconscientemente um serviço proporcional ao que fora recebido e o cliente, aquele barganhador de antes, não terá a menor dúvida em não indicá-lo mais a futuros clientes.

De sorte, se você perdeu o seu futuro cliente para outro profissional que cobra menos ou micharia, relaxe, em pouco tempo ele não mais será seu concorrente pois ao agir dessa forma está minando de forma lenta e gradual suas próprias chances no mercado. Pode até fechar muitos contratos logo no início mas o aumento do trabalho e baixíssima remuneração vão contribuir para a sua perca de rumo. Valorize-se mesmo que a situação financeira do seu escritório não seja das melhores, o que você fizer hoje servirá de espelho para o sucesso que você terá amanhã. Importante: não tenha medo de cobrar, é seu direito e na maioria das vezes nada que um bom diálogo logo no início não resolva e afaste barganhadores de plantão. É isso daí.

Conrado Ramazini
Perito Contábil
CRC SP260301

Formado em Ciências Contábeis (2011), atuando como Perito Contábil Assistente e Judicial desde 2012, após diversas experiências nas áreas financeira e administrativa.

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