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Que país é esse, onde uma greve dura mais de cem dias e ninguém se importa?


Quase diariamente vou ao Tribunal de Justiça do DF, onde milito como advogado. Hoje estive lá. Nada muito diferente do que presencie nesses últimos três meses de greve dos servidores.

Os processos seguem a passos de tartaruga, poucos servidores nas varas e um carro de som tocando música ruim na porta do Tribunal. Já desejei processar o sindicato por conta das músicas de péssimo gosto que eles teimam em tocar no volume máximo. Mas desisti! A cada dia tocando aquelas músicas de mal gosto, os servidores que estão no trabalho ficam mais distantes dos “lideres” sindicais!

Hoje, talvez inspirados pelo Rock in Rio, pelo menos estavam tocando Legião Urbana, uma das bandas nacionais que produziram boa música nos anos de 1980 e 1990. “Que país é esse?” Questionava Renato Russo. Sinceramente, não sei responder a pergunta provocadora!

Um país onde o sindicato insiste numa greve de mais de 100 dias, sem qualquer resultado prático, em relação a qual a maioria da categoria profissional já não aguenta mais; nem tão pouco acredita que trará qualquer resultado prático. Mas acima de tudo, uma greve que se alonga e não se vê qualquer movimentação do judiciário, para pôr fim a paralisação.

E não me venham os donos do sindicato dizerem que estou sendo reacionário por ser contra o seu movimento. Já participei de movimentos mais legítimos que esse dos senhores! Mas nunca tive medo de arcar com as consequências. Por exemplo, o desconto dos dias parados.

Fazer greve recebendo salário integral é fácil. Quero ver quantos ainda estaria aderindo a essa greve interminável se, há três meses não estivesse sendo depositado o salário, nas contas correntes dos senhores.

Tenho processos em fase de cumprimento de sentença. Mas não consigo levantar o alvará. Diariamente as contas chegam e tenho de pagar. A companhia de água, de luz, o condomínio, o proprietário da sala, o provedor de internet, a companhia de telefone. Ninguém, quer saber se o judiciário está em greve e, se em razão disso, não consigo levantar o alvará e menos ainda, pouco se importam se os processos estão parados.

Que país é esse? Onde os cidadãos são privados da justiça por que a justiça não está nem aí para a greve dos seus servidores? Que país é esse? Onde o cidadão que trabalha duro e sustenta o estado com os impostos escorchantes que paga, é tratado com descaso pelo estado ineficiente? Que pais é esse, gente? Onde um congresso podre vota aumento de 79% para a categoria, o que representa um gasto a mais de 8 bilhões de reais por ano, sem dizer de onde vem o recurso para cobrir o rombo? E mais, que país é esse? Onde a presidente veta o aumento, dizendo que não tem dinheiro e propõe a criação de novos impostos para não ter de cortar suas despesas. Despesas inclusive com os salários dos servidores do judiciário, que estão há mais de três meses recebendo o dinheiro da viúva, sem trabalhar.

Não posso ser injusto apontando para todos os servidores. Há os que estão trabalhando dobrado nesses dias de greve, para suprir a falta dos grevistas, atendendo advogados mal-humorados por conta da interminável greve e ainda ouvindo música ruim, no último volume. Esses certamente estão se perguntando: ”que pais é esse, meus Deus do céu? ”

Conrado Ramazini
Perito Contábil
CRC SP260301

Formado em Ciências Contábeis (2011), atuando como Perito Contábil Assistente e Judicial desde 2012, após diversas experiências nas áreas financeira e administrativa.

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